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17. Amor Amarrado

“Venha a mim, e fique preso Pelos poderes da Rainha das Encruzilhadas” (Simpatia para amarração de amor) A chuva estava muito forte lá fora, e os sons da tormenta chegavam até o porão. Ana Rosa desceu as escadas, levando apenas uma vela roxa no castiçal. Ela vestia sua capa ritualística preta e estava apreensiva. Poucas coisas eram capazes de assustar Ana Rosa Arabella, mas ela nunca havia tentado aquele ritual sozinha. Se concentrou ao traçar o círculo, cantando rezas quase tão antigas quanto a humanidade. Se sentou fora dele, derramando vinho e tabaco em seu interior. A velha bruxa iria apreciar a oferenda. Não demorou muito e a vela foi apagada por um sopro de vento anormal. Ana Rosa sentiu os pelinhos da nuca se eriçarem quando a visão luminosa da bruxa idosa apareceu, sentada em uma cadeira de balanço e costurando. - Meus velhos ossos doem nessas noites de tempestade. – Gemeu o espírito da bruxa. - Eu lhe trouxe vinho e tabaco, vovó. – Disse Ana Rosa, a
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16. Época de Colheita

“É assim o destino... Doce e cruel.” (Dulce María) Ana Rosa bateu na porta com firmeza. Lucas bocejou, se arrastando até ela para abri-la. - O que...? Ana Rosa não o deixou falar. Apenas torceu a orelha de Lucas tão forte que ele deixou escapar um grito. - Perdeu completamente o juízo, guri? Quem você pensa que é para ameaçar a minha sobrinha? Garoto imbecil! Imbecil! As palavras dela eram ásperas, mas Lucas teve a impressão de que ela estava menos furiosa do que aparentava, e esfregou as orelhas, irritado, quando ela o soltou. - Violeta quer que eu te mande embora, e não a culpo. Aquilo é jeito de tratar uma moça que não te fez nada? - Violeta – cospe Lucas – me fez mais mal do que qualquer outra pessoa no mundo. Ela me esqueceu sem pensar duas vezes. - Sei! Está culpando a minha sobrinha por estar vivendo a vida dela depois que você a deixou. Muito maduro da sua parte! Lucas suspirou, baixando os olhos. - Eu estou envergonhado pelo o que eu fiz. Muito e

15. Transformar Lágrimas em Rosas

“O verão sem você é frio como o inverno. O inverno sem você é mais frio ainda” (Lemony Snicket) A igreja era grande, e estava cheia. Violeta abaixou o capuz, imaginando se seu cabelo estaria totalmente arruinado. Chovia um pouco, e ela e Lena se entreolharam antes de entrar e ocupar um dos últimos bancos. - Não deveríamos estar aqui. – Sussurra Violeta, nervosa. - Por que? – Pergunta Lena, tentando parecer despreocupada. – Ninguém sabe que somos praticantes de bruxaria. Violeta engoliu em seco, e se levantou quando todos se levantaram e o padre começou a missa. Ele era um homem bem velho, mas sua voz era firme e ressoava pelas paredes de mármore até o teto de abóboda. Violeta não prestava muita atenção às palavras dele, levantando e se sentando novamente de forma automática quando as pessoas ao redor dela o faziam. Lena corria os olhos atentos pela igreja, e apertou a mão de Violeta. A garota levantou a cabeça e se forçou a prestar atenção nas palavras do s

14. Sozinha

“Solidão. Após a queima de fogos, Uma estrela cadente.” (Shiki) O silêncio foi absoluto por alguns segundos. Lena deu uma leve tossida. - Vou ao banheiro. – Murmurou, se afastando. Violeta olhou para as próprias mãos, escondendo as unhas com esmalte descascando com as mangas da jaqueta. Por dentro, Fernando estava trêmulo, mas decidiu continuar firme por fora. - É mesmo verdade? – Insistiu ele. – Você também pensa em mim? – Ela continuou em silêncio. - Não vai me responder? – Perguntou, sentindo o rosto quente. Violeta hesitou, mas por fim o encarou, com os olhos enormes. - O que quer que eu diga? Eu só sei que você fica me encarando com muita insistência desde o ano passado... Se eu não estiver enganada. - Não está enganada. Silêncio novamente. Violeta perdeu a paciência. - Então por que mentiu? – Perguntou, abraçando os próprios braços. – Por que fica me encarando? Fernando demorou um pouco para responder, engolindo em seco. - É complicado... V

13. A Segunda Encruzilhada

“Chovi amor Em pessoas Que preferem Telhados” (Zack Magiezi) Violeta entrou no quarto arrastando os pés, e se sentou em frente a penteadeira. Encarou o próprio reflexo e não gostou do que viu quando tirou o colar de quartzo rosa do pescoço. Ela parecia cansada. Mais velha, até. Seus olhos estavam pesados. São esses os sintomas de um coração partido? Ela sabia que estava exagerando, que Lucas estava apenas se sentindo mal, por isso fora tão frio. Não quero nada sério no momento , as palavras dele. Violeta franziu os lábios, com desaprovação. - Ora, aquele garoto tem sérios problemas. A culpa não é minha se ele não sabe o que quer. Batidas na porta a fizeram se virar. Era Ana Rosa. - Precisamos conversar, garota. Violeta suspirou. - Precisamos mesmo? - É claro. Ou quer que eu te coloque de castigo, como uma criança? Afinal, você andou brincando com feitiços, não é? - Eu me responsabilizo pelos meus atos. – Cospe Violeta, sentindo o coração dispa

12. Luz, Trevas e Glamour

“Meu amor apareceu, o mundo empesadeleceu.” (Lemony Snicket) - As garras são feitas para rasgar, e os dentes para estraçalhar. Mas não há nada, nada que tenha sido feito com o propósito de amar alguém. – Lucas falava, olhando o sol nascendo aos poucos no horizonte. – Nada para fazer um carinho, para demonstrar afeição... Ana Rosa estalou a língua, impaciente. Os dois faziam uma caminhada matinal, aproveitando os primeiros raios de sol para terem uma conversa franca. - Ora, guri... Isso não é você. É uma fase difícil, é parte desse ano difícil, mas não é você. Você é um rapaz jovem e bom. E eu lhe digo, Lucas Matarazzo: seu coração foi feito para amar, como o coração de todas as pessoas jovens e destemidas. - E o meu coração ama – assente Lucas. – Ele ama a vida, principalmente quando ela é refletida nos olhos dela . Mas eu ainda não sei como dizer que o garoto que a adora é um completo monstro durante as noites mais claras... Ana Rosa ajeita o óculos no rosto. - P

11. Ela não é uma Dama

“Finalmente caiu em si. E foi em queda livre.” (Clarice Freire) Na manhã seguinte, Violeta e Lena saíram juntas para ir ao colégio, como sempre. Mas, como nunca, havia dois garotos parados em frente ao portão. O coração de Violeta ficou alerta ao ver Lucas: o uniforme do Colégio, que sempre lhe parecera tão formal e sério, nele tinha um aspecto descolado e moderno. Talvez fosse a forma como ele estava amarrotado. Ele e Jaime haviam trocado comprimentos, um pouco constrangidos, e esperavam em silêncio pelas meninas. - Seu amor está esperando por você. – Provoca Lena. - Ao menos o “meu amor” não parece um cachorrinho, como o seu Jaime. – Devolve Violeta. - Não. – Concorda Lena, cheia de malícia. - O seu é mais como um lobo selvagem. Lena deu o braço para Jaime e apressou o passo, caminhando na frente para que Violeta e Lucas pudessem conversar com mais privacidade. Lucas a beijou no rosto e pegou a mão dela. - Vamos? - Vamos. Os dois começaram a d