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12. Luz, Trevas e Glamour

“Meu amor apareceu, o mundo empesadeleceu.”
(Lemony Snicket)

- As garras são feitas para rasgar, e os dentes para estraçalhar. Mas não há nada, nada que tenha sido feito com o propósito de amar alguém. – Lucas falava, olhando o sol nascendo aos poucos no horizonte. – Nada para fazer um carinho, para demonstrar afeição...
Ana Rosa estalou a língua, impaciente.
Os dois faziam uma caminhada matinal, aproveitando os primeiros raios de sol para terem uma conversa franca.
- Ora, guri... Isso não é você. É uma fase difícil, é parte desse ano difícil, mas não é você. Você é um rapaz jovem e bom. E eu lhe digo, Lucas Matarazzo: seu coração foi feito para amar, como o coração de todas as pessoas jovens e destemidas.
- E o meu coração ama – assente Lucas. – Ele ama a vida, principalmente quando ela é refletida nos olhos dela. Mas eu ainda não sei como dizer que o garoto que a adora é um completo monstro durante as noites mais claras...
Ana Rosa ajeita o óculos no rosto.
- Preste atenção! Se você está apaixonado pela Violeta, conte a verdade a ela, e logo. Não a subestime. Violeta é uma bruxa, é minha sobrinha e tem uma intuição afiadíssima. Se não contar nada a ela, ela vai descobrir. É apenas uma questão de tempo.
- Como posso contar a ela uma verdade que apavora a mim mesmo?
- Talvez – Ana Rosa começa, colhendo uma muda de hortelã do mato. – Você tenha que confiar no fato de que Violeta é corajosa, mais corajosa do que você.

Os dois começaram a caminhar de volta para a Pensão.
Um carro preto parou próximo à guia e o vidro do motorista se abriu.
- Bom dia.
Lucas observou um homem sério, de cabelo e cavanhaque escuro e olhos verdes.
- É um ótimo dia, ouso dizer. – Responde Ana Rosa, mas não com ar gentil. – Um belo dia para cada um cuidar de sua vida e seguir o seu caminho!
O homem não pareceu se abalar com o tom de confronto da mulher, como se já estivesse acostumado aos seus modos. Ele examinou Lucas sem muito interesse.
- Só estou checando o bairro. Está tudo sob controle?
- Ora, claro que está! – Se exaspera Ana Rosa. – Mas deve ser graças ao seu patrulhamento. O que seria de nós sem ele? Pobre dos meus ossos velhos...
- São tempos muitos sombrios, Ana Rosa. – Diz o homem, franzindo o cenho. – Mas você sabe disso.
Ana Rosa não respondeu, e o carro se afastou.
- Tempos sombrios – resmunga ela. – Você não imagina o quanto...
- Quem era? – Pergunta Lucas.
- Ninguém especial. Vamos para casa, guri. Um bom chá e biscoitos de gengibre vão me ajudar a começar bem o dia. É uma receita caseira, e se Violeta não os tiver deixado queimar, garanto que estarão deliciosos.
Lucas não fez mais perguntas.
Estava se lembrando do pesadelo que tivera durante a noite. As garras, os olhos arregalados de Violeta, o grito dela quando ele se preparava para atacá-la...
Não. Eu jamais machucaria Violeta. Nunca a atacaria. Nunca.
Ele tentava convencer a si mesmo, enquanto seguia Ana Rosa para dentro dos portões da Pensão, que ela trancou com certa satisfação.

***

Violeta viu Lucas e Ana Rosa entrarem, e se debruçou na janela para observá-los.
- É muito estranho. Eu não consigo me livrar da impressão de que os dois escondem alguma coisa de mim.
- Ah, claro – diz Lena, calçando as sapatilhas. – Eles devem ter um caso. Com toda a certeza.
Violeta ri.
- Se fosse apenas um caso, eu estaria mais tranquila. Mas você nunca se perguntou por que o Lucas está aqui? Ele nunca me disse. E é ainda mais estranho Ana Rosa deixá-lo naquele quartinho embolorado.
- Vai ver ele é o filho bastardo dela.
- Estou falando sério, Lena! Tem alguma coisa muito suspeita em tudo isso.
- Tudo bem, Sherlock. Será que podemos descer e tomar café? Você desligou os biscoitos que estavam no forno?
- Não, pedi ao Sr. Cardoso que fizesse isso.
- Aposto que ele se esqueceu e Ana Rosa vai matar você. Ela acordou antes das quatro pra sovar a massa. Agora vai se vestir, Violeta, antes que você atrase a todos nós.
Violeta deu de ombros, tirando a camisola.
- Eu acordei com vontade de chocar o mundo, hoje. – Declara, deixando a saia do uniforme de lado e pegando uma saia preta curta de tecido brilhante.
- Aquele coordenador ditador vai te mandar voltar pra casa. – Diz Lena, com a sobrancelha erguida.
- Não, ele não vai – sorri Violeta, colocando um colar com um quartzo rosa no pescoço.
Na mesma hora o cabelo e a pele dela pareceram ficar radiantes. Ela sorriu, e Lena soltou uma gargalhada.
- Não acredito que você fez um feitiço de glamour sem mim!
- Lena, querida, você já tem o seu grande amor aos seus pés. Deixe-me conquistar o meu.
- Com prazer, Afrodite. Mas decida se sua paixão é mesmo o garoto que deve estar comendo biscoitos queimados na nossa cozinha nesse exato momento.
Violeta dá de ombros, vestindo a camiseta do uniforme e colocando as meias sete oitavos.
- Eu sinceramente não sei. Apenas gosto dele. E também gosto de ter o mundo girando ao meu redor de vez em quando.

***

Briana acordou já grudada no celular.
Nenhuma notícia de Fernando.
Nenhuma mensagem de “bom dia”, nenhuma resposta às mensagens da noite anterior.
Ele era sem dúvida o cara mais distante que ela já havia namorado.
Mas sua maior preocupação no momento era outra: havia visto Violeta discutindo com Fernando no dia anterior. Uma discussão suspeita, próxima demais.
E depois Violeta havia beijado um garoto estranho que ela nunca havia visto na vida.
E ela podia jurar que Fernando havia se irritado com aquilo.
Briana suspirou, indo para o banheiro e começando seus rituais de beleza matinais, limpando a pele com algodão e seus produtos caros.
Ela não entendia, não entendia mesmo.
Todo mundo sempre disse que ela era linda e carismática. E ela fazia de tudo para agradar Fernando.
Mas era como se ele vivesse através de uma redoma de vidro e ela não pudesse alcançá-lo. Ela falava com ele e depois percebia que ele não tinha prestado atenção em nenhuma única palavra.
Ela queria que ele a amasse. Que se declarasse formalmente, lhe desse um anel... Briana com certeza se sentiria mais segura se ele fizesse isso.
Toda vez que Violeta, a pessoa pela qual ela mais tinha aversão, passava por eles, Fernando a seguia com o olhar, quase inconscientemente.
No começo, Briana tentou ignorar aquilo, mas estava cada dia mais incomodada. Porque tinha certeza de que ele não olhava para ela assim.
Estou sendo uma boba, pensou. É de mim que ele gosta. É comigo que ele sai nos finais de semana, com quem ele anda de mãos dadas, pra quem ele compra doces na cantina. E isso basta, por enquanto.
Terminou de se maquiar, satisfeita com o resultado.
Fernando era tímido, só isso.
Com o ânimo renovado, pegou o celular e mandou novas mensagens para ele.

***

Fernando escutou o celular apitar.
Leu as mensagens.
Rolou na cama.
Desligou o celular.

***

Quando Lucas foi pegar a mochila, depois do café-da-manhã, Violeta foi com ele até o quarto.
Ela estava tão radiante que ele sentia um arrepio na nuca só de olhar pra ela.
- Eu ainda não entendo como Ana Rosa deixa você ficar aqui. – Comenta ela, cruzando os braços.
Lucas dá de ombros.
- Eu apenas sou grato por ter um teto sobre a minha cabeça.
- Você poderia ficar doente. – Diz Violeta, franzindo a testa. – Sério. Aqui é muito úmido e frio.
Ela varreu o quarto com os olhos, até que eles pararam em um ponto.
- Vamos? – Pergunta Lucas, jogando a mochila sobre o ombro.
Violeta o encara.
- Onde arranjou aquilo?
Ela apontava para o cachecol pendurado em um gancho na parede. O mesmo que Lucas havia pego na cozinha da Pensão no dia em que foi até o parque.
- Ah, isso... Eu ia devolver. Peguei na cozinha. É da Ana Rosa?
- Não. É meu. – Violeta deu um meio sorriso. – Mas pode ficar com ele. Morando aqui, você vai precisar mais do que eu.

***

Briana se ajeitava no espelho do banheiro feminino da escola, perto da hora da saída, tagarelando com Edna, sua fiel escudeira.
- Fernando não respondeu minhas mensagens, então fiquei preocupada e liguei pra casa dele. O pai dele atendeu e disse que ele estava se sentindo mal e não ia vir hoje pra escola.
Edna arregalou os olhos.
- Fernando está doente?
- Ele vai ficar bem. Vou fazer uma surpresinha pra ele hoje. Foi bom falar com o pai dele. Ele foi muito simpático.
- Você já pode considerá-lo o seu sogro, não é? – Indaga Edna, fazendo Briana sorrir.
- Quase isso.
Ela examina os próprios cílios no espelho após a camada generosa de rímel, quando percebe Violeta entre as outras garotas. Ela parecia neutra, mas Briana percebeu que ela estivera escutando a conversa.
Ora, ela deve ter feito uma limpeza de pele muito boa. Pensou, com amargura. Nunca vi a pele dela desse jeito. Nem o cabelo. E essa saia? Porque o coordenador me dá uma advertência quando uso peças que não são do uniforme e ela pode simplesmente usar essa microssaia pelo colégio?
Briana se volta para ela.
- Nossa, Violeta... Quase não te reconheci! Deu um trato no visual?
Violeta ergue as sobrancelhas, encarando-a sem dizer nada.
- É uma pena que nem todas as garotas possam fazer limpeza de pele e escova no salão sempre, para manterem a boa aparência, não é mesmo? – Indaga Briana, com falsa inocência.
- Não, eu não acho. – Cospe Violeta, encarando-a de perto. - A beleza não está nos produtos de salão. A beleza está no poder.
- E o poder está no dinheiro. – Ataca Briana.
- Não. O poder está no sangue. Se nasce com ele.
Briana ri.
- Oh, está falando da sua família de bruxas? Porque eu não acho que vocês sejam exatamente influentes por aqui.
Violeta sorri.
- Ah, não?
Ela deu uma piscadela para Briana, e no mesmo tempo as luzes do banheiro se apagaram, e um dos maiores espelhos se quebrou, em uma explosão de cacos que caíram sobre a pia e se espalharam pelo chão.
Várias meninas gritaram, mas Briana apenas ficou pálida, encarando Violeta, sem reação.
- Se cuida. – Violeta soprou um beijinho no ar e deu as costas à ela.

***

Lucas esperava por Violeta na saída da escola.
Mais uma vez, ele notou como os outros garotos olhavam para ela, especialmente hoje. Ela estava deslumbrante.
E ele sentiu um nó na garganta.
Havia se torturado a manhã toda, sentado na sala de aula, mas com a cabeça muito distante.
O cachecol era dela. Aquele cheiro doce, tentador, era dela. Ele a havia caçado como uma fera persegue uma presa. Ele era um monstro, e não podia mais deixar que ela se arriscasse ficando perto dele.
- Eu estou de folga, hoje. – Diz ela, dando um meio sorriso. – Porque não vamos tomar um suco no Point Coffe?
Lucas sorri de volta, vagamente.
Aquela noite seria de lua cheia.
E tudo o que ele queria eram mais algumas horas com Violeta antes de enfrentar seus demônios.

***

- Você não tem provas. – Disse Kenji, do outro lado da linha. – Mas se acha mesmo que ela é uma bruxa, deveria procurar o Padre Eulálio.
Fernando apertou o telefone.
- Não. Não conte pra ninguém. Até eu ter certeza...
- Tudo bem. Mas se continuar aporrinhando essa menina, vai acabar levando um chute nas bolas, cara. É sério. Talvez você deva deixá-la em paz.
Fernando franziu a testa.
- Eu? Eu tenho que deixá-la em paz... Kenji, você não faz ideia do que ela faz comigo.
- Eu posso imaginar. – Tinha malícia na voz de Kenji.
Fernando balançou a cabeça, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ouviu a campainha tocar.
- Vou ter que desligar agora. Te ligo depois.
- Beleza. E vê se relaxa um pouco. Não é à toa que ficou doente.
Revirando os olhos, Fernando colocou o telefone no gancho e se levantou do sofá, onde estivera deitado a manhã toda, tentando se recuperar da gripe com bolacha de chocolate e televisão.
Abriu a porta.
Briana sorriu.
- Surpresa. Como você está?
Fernando bocejou.
- Melhorando. Quer entrar?
Briana assentiu, adentrando a sala.
- Nossa, sua casa é bem grande. Gostei dos móveis. E a decoração é estilo minimalista, não é?
- Acho que sim. – Suspira ele, olhando com saudades para o sofá e a TV ligada. – Pode se sentar.
- Obrigada. Você estava comendo bolacha? Não almoçou?
- Fiquei com preguiça de preparar alguma coisa.
- Podíamos sair pra comer.
Fernando franze a testa, sem nenhuma vontade de se trocar para acompanhar Briana até o shopping.
- Eu acho que preciso descansar...
- Mas você precisa se alimentar direito. Se quiser, procuro algum restaurante delivery.
- Como foi no colégio hoje? – Pergunta ele, tentando mudar de assunto.
- Normal. – Briana hesita. – Na verdade, só uma coisa me incomodou. Um espelho do banheiro se quebrou do nada na hora da saída. As garotas enlouqueceram. Mas o pior é que pareceu que Violeta tinha causado tudo.
Fernando a olhou, surpreso.
- Como assim?
Briana descreveu a cena, balançando a cabeça.
- Eu sempre a achei muito estranha, sabe. E ela simplesmente me persegue desde sempre. Mas você acha que ela pode estar falando sério? Você acha que ela é uma bruxa mesmo?
Fernando desvia o olhar.
- Eu não sei.
Briana morde o lábio inferior antes de continuar falando.
- Porque se, sabe, ela for mesmo uma bruxa, então ela realmente pode ser perigosa. Eu nunca acreditei nessas coisas, mas... Ela poderia fazer algum tipo de feitiço estranho pra mim. Ou pra você.
Ele a encara, erguendo uma sobrancelha.
- Pra mim?
Briana dá um sorrisinho nervoso.
- É, sabe. Porque nós dois estamos juntos. E ela me odeia. Faria qualquer coisa pra me atingir. – Briana faz uma pausa. – Bom, mas devo estar sendo uma boba, não é? Essas coisas não funcionam de verdade. Porque se ela usou alguma magia sinistra pra ser bonita e sociável, não deu certo.
Fernando apenas, assentiu, distraído.
Briana estalou a língua, impaciente.
Ah, ele ficava com aquele ar distante toda vez que o nome de Violeta era mencionado. Agora ela percebia. Teve vontade de sair e bater a porta, mas aquela não seria a melhor solução.
- Mas não vamos mais falar disso. – Decide Briana, respirando fundo. – Você nem me deu um beijo, e eu senti sua falta hoje...
Ela se aproximou, mas Fernando a deteve.
- Não é uma boa. Não quero que você pegue a minha gripe.

***

Lucas observava Violeta experimentando chapéus no Point Vintage, o brechó que ficava acima do Point Coffe.
Ela parecia mais mística do que nunca, deslizando na frente do espelho com os chapéus que quase lhe cobriam o rosto, o quimono de renda ondulando ao redor dela..
- Eu vou levar – disse, entregando as peças para a vendedora. – Não vai experimentar nada? – Perguntou, voltando-se para Lucas.
Ele estava sentado perto da janela, e apenas balançou a cabeça.
- Hoje não.
Violeta o observou com atenção.
Ele estava estranhamente quieto.
- Lucas, você está bem?
- Eu estou ótimo.
Violeta se recusou a acreditar, e, pegando as sacolas, foi até ele.
- Vamos para casa.
Lucas assentiu, e por todo o caminho até a Pensão ele a seguiu, segurando a mão dela e vendo o cabelo castanho balançando com o vento enquanto caminhavam.

***

Quando Lucas entrou no quarto, começou a separar algumas roupas, desanimado.
Só faltavam mais algumas horas para que ele e Ana Rosa partissem para outra encruzilhada, e o monstro dentro dele parecia cada vez mais agitado, faminto, comemorando a futura liberdade.
Lucas se retraia, já sentindo um gosto amargo na boca e uma pedra pesada de medo dentro do estômago, se recusando a ser digerida.
Sua testa pingava de suor, e ele quase não escutou as batidas na porta.
Imaginando que era Ana Rosa, apenas gritou:
- Entre!
Mas, para a surpresa dele, foi Violeta quem entrou, carregando uma pilha de almofadas e um cobertor.
- Não conte para Ana Rosa. Peguei sem que ela visse.
Lucas observou, perplexo, Violeta esticar o cobertor no chão e soltar as almofadas sobre ele.
- O que você está fazendo?
Ela sorri.
- São para impedir que você congele. A temperatura vai cair nessa madrugada. Logo vai ser inverno. – Ela dá de ombros. – Pensei que poderíamos ver algum filme hoje a noite. Posso trazer pipoca. Acho que Ana Rosa não vai ligar.
Lucas se aproxima dela, tenso.
- Um filme? Hoje a noite?
- É. – Violeta o observa, desconfiada. – Lucas... Tem certeza de que você está bem? Você está suando, e suas mãos estão geladas...
Lucas a observou segurar suas mãos entre as delas, e por um minuto imaginou a si mesmo perdendo o controle.
Imaginou as unhas se cravando na carne quente, os dentes rasgando o pescoço dela. Violeta nem teria tempo de gritar.
E então seu corpo seria mutilado, rasgado e devorado, sobre o mesmo cobertor que ela esticara sobre o chão. A carne de Violeta. O sangue de Violeta. Os ossos de Violeta. O gosto de Violeta.
Tudo de Violeta, inclusive sua morte.
Lucas se afastou dela, bruscamente.
- Não é uma boa ideia. Eu só preciso ficar sozinho.
- Mas...
- Violeta, sinto muito se você teve a impressão errada. – Disse, de repente. – Mas eu não quero nada sério no momento. Eu preciso de espaço.
Ele não sabia de onde vinham aquelas palavras, mas sabia que do coração que não era.
Violeta o olhou, surpresa.
- Tudo bem. – Disse, tentando não deixar transparecer a própria humilhação. – Sem problemas. Acho que eu realmente tive a impressão errada.
Ela saiu, consternada.
Lucas fechou os olhos, caindo de joelhos.
Os próximos dias não seriam nada fáceis.

CONTINUA

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