“O verão sem
você é frio como o inverno.
O inverno sem
você é mais frio ainda”
(Lemony Snicket)
A igreja era grande, e estava cheia.
Violeta abaixou o capuz, imaginando
se seu cabelo estaria totalmente arruinado. Chovia um pouco, e ela e Lena se
entreolharam antes de entrar e ocupar um dos últimos bancos.
- Não deveríamos estar aqui. –
Sussurra Violeta, nervosa.
- Por que? – Pergunta Lena, tentando
parecer despreocupada. – Ninguém sabe que somos praticantes de bruxaria.
Violeta engoliu em seco, e se
levantou quando todos se levantaram e o padre começou a missa.
Ele era um homem bem velho, mas sua
voz era firme e ressoava pelas paredes de mármore até o teto de abóboda.
Violeta não prestava muita atenção às
palavras dele, levantando e se sentando novamente de forma automática quando as
pessoas ao redor dela o faziam.
Lena corria os olhos atentos pela
igreja, e apertou a mão de Violeta.
A garota levantou a cabeça e se
forçou a prestar atenção nas palavras do sacerdote, que lia uma passagem da Bíblia.
- Deuteronômio 18:9-13, diz: "Quando
entrarem na terra que o Senhor, o seu Deus, dá a vocês, não procurem imitar as
coisas repugnantes que as nações de lá praticam. Não permitam que se ache
alguém no meio de vocês que queime em sacrifício o seu filho ou a sua filha;
que pratique adivinhação, ou se dedique à magia, ou faça presságios, ou
pratique feitiçaria ou faça encantamentos; que seja médium, consulte os
espíritos ou consulte os mortos. O Senhor tem repugnância por quem pratica
essas coisas, e é por causa dessas abominações que o Senhor, o seu Deus, vai
expulsar aquelas nações da presença de vocês. Permaneçam inculpáveis perante o
Senhor, o seu Deus.”
As garotas trocaram um breve olhar. Normalmente
ririam daquele discurso, mas não agora. Estavam pálidas e não ousavam encarar nenhum
outro rosto, como se fossem criminosas.
- Nesses tempos difíceis – continua o
padre. – As saídas fáceis são as maiores tentações que podem recair sobre os
católicos. Como seres humanos imperfeitos e sujeitos aos erros, é importante
sempre reforçar nossa fé e pedir ao Nosso Senhor que não nos permita seguir por
caminhos poucos virtuosos ou condenáveis. É o caso das práticas de feitiçaria e
mediunidade. Não se deixem levar por essas enganações pouco honrosas. Se
encontrarem com pessoas envolvidas com tais práticas, tragam-nas à igreja. Sempre
haverá chance para o arrependimento.
Violeta sentiu um estremecimento de
raiva.
Arrependimento! Quem aquelas pessoas
achavam que eram para condená-la, para se sentirem donos da razão e da verdade?
Ela olhou para Lena e percebeu que a
amiga cruzara os braços e estava mordendo o lábio, como se estivesse se
contendo para não jogar uma praga em todos os presentes.
Ana Rosa a havia ensinado a usar as
energias da natureza para conquistar seus objetivos, e que o universo era um
ciclo infinito de dar e receber. Como é que compartilhar energias positivas
poderia ser algo ruim?
Ouvir os sussurros do vento e da
terra eram ensinamentos mais sábios e antigos do que qualquer religião. Bem
como os deuses para quais algumas bruxas oravam e faziam rituais, que eram tão
velhos quanto a própria humanidade.
Mas Violeta sentiu um bolo na
garganta. Era o seu próprio orgulho e as vezes em que usara a magia com propósitos
egoístas, segundo Ana Rosa.
Não importava o que qualquer
religioso diria, mas suas atitudes provavelmente não seriam motivo de aplausos
entre as bruxas ancestrais.
Não vou pensar
nisso agora, nesse lugar, ou vou desabar. Decidiu Violeta, enquanto o padre encerrava a cerimônia e
as pessoas elevavam cânticos que ela desconhecia.
Pareceu que uma eternidade se passou
até que a missa terminou e metade das pessoas começaram a se dispersar, e uma
mulher foi até o microfone e convidou aos mais jovens para ficarem e escutarem
a banda Fallen Angel se apresentar (e
ela torceu o nariz ao pronunciar o nome).
Violeta sentiu o coração disparar ao
ver Fernando se levantar de um dos bancos mais próximos ao altar.
Ela queria ir embora antes que ele a
visse, mas Lena não deixaria.
Eles não demoraram muito para organizar
o equipamento e começar a tocar.
Para a surpresa de Violeta, ela reconheceu
a música. Era Whispers In The Dark, da banda Skillet. Era rock cristão, mas era rock.
“Despite the lies that you're making
Your love is mine for the taking
My love is
Just waiting
To turn your tears to roses”
(Apesar das
mentiras que você está fazendo
Seu amor é meu
para ser conquistado
Meu amor está
Apenas esperando
Meu amor está
Apenas esperando
Para transformar
suas lágrimas em rosas)
Era outro rapaz, o vocalista, quem
cantava.
Fernando parecia muito concentrado ao dedilhar a guitarra. Mas Violeta nunca o tinha visto tão descontraído, e vez ou outra
ele sorria enquanto tocava.
Mas, em outros momentos, os olhos
dele percorriam a multidão.
“No
You'll never be alone
When darkness comes
I'll light the night with stars
Hear my whispers in the dark”
(Não
Você nunca estará só
Quando a escuridão vier
Você nunca estará só
Quando a escuridão vier
Eu iluminarei a
noite com estrelas
Ouça meus sussurros na escuridão)
Ouça meus sussurros na escuridão)
De repente, os olhos dos dois se
encontraram.
A surpresa foi visível na expressão
de Fernando, depois foi substituída pela incredulidade. Violeta se encolheu,
baixando os olhos e desejando ter o poder de simplesmente desaparecer.
Ele deveria estar pensando que era
muito atrevimento dela aparecer ali, depois de todas as ameaças e insultos. Ela
era uma intrusa.
Violeta se obrigou a erguer a
cabeça.
Não poderia dar o braço a torcer de
novo.
Ele não a olhou de novo enquanto
tocava, e ela sentiu um aperto no peito.
Eu
sou tão ridícula...
Ela o cobiçava. Apesar de todas as
desavenças e de tentar simplesmente desprezá-lo, ela ainda o queria. Ele já
havia atormentado o seus pensamentos por tempo demais para que ela simplesmente
desistisse.
Mais cedo do que Violeta esperava, a
banda parou de tocar.
As pessoas começaram a se aglomerar
em volta de uma mesa com refrigerante e petiscos.
Mas Violeta viu quando Fernando
passou reto por elas, saindo da igreja, sozinho, sem lhe dirigir um único olhar
que fosse.
- É a sua chance. – Lena a cutucou. –
Vá atrás dele.
- Eu não posso... – Violeta fechou
os olhos.
Mas Lena começou a empurrá-la para
fora do banco.
- Eu assisti uma missa inteira por
você. Agora vá até lá e dê um ponto final nessa história. Eu vou comer aquelas
bolachas de graça que eles estão servindo.
- São biscoitos. – Resmunga Violeta,
saindo para o pátio escuro da igreja.
A chuva tinha engrossado um pouco, e
estava esfriando, mas ela não colocou o capuz. As pessoas que saiam seguiam em
grupos, indo direto para o grande portão de saída, além de alguns carros
estacionados.
Violeta olhou em volta, sem ver
sinal algum de Fernando.
Ia voltar pra dentro, puxar Lena e
dar o fora dali, já arrependida de ter vindo, quando o viu.
Ele estava parado, encostado em uma
coluna de pedra da arquitetura antiga da igreja, mãos no bolso, um pé apoiado
na parede, ou outro no chão.
E a observava, claro.
Violeta engoliu em seco, perdendo
toda a coragem e sentindo os joelhos tremerem. Queria correr até Lena e arrastá-la
para casa.
Mas a vaidade era maior.
Erguendo a cabeça e alinhando as
costas, ela começou a caminhar ao redor do prédio da igreja, seguindo ao lado
do jardim de rosas vermelhas e brancas, como se não quisesse nada.
Ia se virar para voltar, com a
franja já muito úmida grudada na testa, mas deu de cara com Fernando. Ele a
havia seguido, muito silenciosamente, e agora os dois estavam sozinhos, fora da
visão das pessoas que saiam apressadas da igreja, tentando escapar da chuva.
- Ah, oi. – Disse ela, tentando
conter o susto. – Curti a apresentação. Skillet é legal.
Ela tentou sorrir e se sentiu uma
idiota.
- O que está fazendo aqui? –
Confrontou ele.
Violeta poderia ter o controle no colégio
ou em qualquer outro lugar, mas não ali. Ali era a igreja dele, sua segunda casa. Atrás das paredes grossas de pedra estavam
seus amigos e familiares.
- Nunca tinha te visto aqui antes. –
Continuou.
Violeta balançou a cabeça,
embaraçada.
- Eu não costumo frequentar igrejas.
- Sei.
Silêncio. Desconfortante.
Violeta estava quase dando de ombros
e caindo fora. Devia ter perdido completamente o juízo por ter dado ouvidos à
Lena.
- Eu vou embora. – Disse, passando
por ele.
Fernando não se mexeu, mas ela
parou, os pés grudados no chão. Se voltou, começando a ficar irritada.
- Por que você me odeia? –
Perguntou, trincando os dentes.
Fernando a encarou, surpreso.
- Eu não odeio você.
- Odeia sim. – Acusou ela. – É por isso que fica me encarando. Para que eu
pense que você tem algum interesse em mim, mas na verdade você se diverte às
minhas custas.
- Eu...
- E isso é muito cruel. – Continua ela,
cerrando os punhos. – Porque eu sou apenas uma garota que nunca teria chance de
ter a atenção de pessoas como você.
- Achei que você fosse uma bruxa que
poderia foder com a minha vida pra sempre. – Revida ele, sem conseguir conter o
sarcasmo na voz.
Violeta estremeceu.
- Eu nunca fiz nada pra você.
Ele se aproximou, muito sério.
- Quer saber? Eu não acredito.
Fernando a puxou pelo braço, e
Violeta engoliu em seco.
- Para onde está me levando?
Mas ele apenas a havia puxado para
mais perto da parede, onde as telhas os protegia da chuva.
- Quando eu tentei me aproximar, você
ameaçou me fazer em pedaços. Quando eu perguntei se a nossa atração estranha e
platônica era real, você negou. Quando eu te chamei pra sair, você recusou. E
agora vem me acusar de ser cruel? Acha que sou eu quem odeia você?
Ele parecia estar com tanta raiva
que Violeta não ousava mais encará-lo.
Fernando suspirou, passando a mão
pelo cabelo molhado.
Percebeu que a respiração dela
estava acelerada, e quando viu uma gota transparente escorrer pela bochecha
dela, se perguntou se Violeta estava chorando ou se era apenas a chuva que
escorria do cabelo dela.
- E eu acho que você tenha feito coisas pra mim, sim. – Acrescentou ele. –
Mas eu não me importo.
Violeta se virou, ficando de costas
para ele.
A chuva continuava caindo e ela se
encolheu de frio.
Sentiu a mão dele no braço dela e
estremeceu.
- Você está tremendo. – Sussurrou ele,
mais próximo do que ela esperava.
Ela se virou, devagar.
- Eu só queria que você me deixasse
em paz. – Disse ela.
Fernando franziu a testa, com ar
grave.
- Tudo bem. Me diga se ainda é o que
você quer, e eu te deixo em paz. Uma palavra sua e nunca mais vou incomodá-la. É
isso que você quer, Violeta?
Ela fechou os olhos.
Os sentimentos conflitantes eram
mais fortes do que o orgulho.
- Não.
Ela não abriu os olhos, e sentiu os
lábios dele tocarem os dela. Seu coração, que já estava acelerado, disparou
mais ainda.
Fernando mal conseguiu conter a
ansiedade.
Esperava qualquer coisa, até mesmo
um tapa. Mas ela apenas ergueu a cabeça, e ele começou a beijá-la com mais
intensidade.
Ele segurou o rosto dela entre as mãos.
Estava beijando-a e mal conseguia acreditar.
Violeta o abraçou, as mãos dela
deslizando pelas as costas dele, surpresa que ele fosse tão quente, quando ela
sempre o imaginara frio como o inverno.
***
Lucas sentiu o coração explodir em fagulhas quando viu Violeta beijando aquele cara.
Escondido pela sombra de uma árvore,
se arrependeu de ter seguido Violeta e Lena até ali.
Era melhor a ignorância do que aquela
tortura, aquela dor e ódio por saber.
Secou as lágrimas antes de sair
pisando duro.
Ela já o havia esquecido, assim como
ele fingia fazer em relação a ela.
***
Lena e Violeta entraram em casa silenciosamente, as duas um tanto absortas nos próprios pensamentos.
Tiraram os sapatos e as jaquetas
molhadas na varanda.
Lena havia felicitado Violeta pelas
coisas terem dado certo, mas estava longe de parecer animada. Parecia pálida e
preocupada, e Violeta achou que ela poderia estar ficando gripada.
-Vá tomar um banho quente. – Sugeriu
para a amiga. – Vou fazer um chá pra gente.
- Deixei alecrim fresco em uma cesta
no porão. – Diz Lena. – Pode usar.
Violeta assentiu enquanto atravessavam
a sala escura, silenciosa.
Nada de Ana Rosa.
Lena subiu para o banheiro, Violeta
desceu para o porão.
***
- Idiota! – Lucas chutou a própria mochila, que estava no caminho. – Trouxa!
Ele vociferava, feroz, jogando seus
poucos pertences do outro lado do quarto.
Tudo estava dando errado.
Violeta estava com outro, os dias na
escola estavam cada vez piores, e o monstro... O monstro o deixava
terrivelmente mal humorado.
A cada transformação, Lucas sentia
que estava perdendo. Perdendo ele mesmo, seu lado humano, para a criatura cruel
e sanguinária que ele parecia estar destinado a se tornar.
Já não era o mesmo.
Sua aparência era maltratada,
pálida, sombria, e, toda vez que olhava alguém nos olhos, sentia a pessoa
estremecer, como se apenas os olhos escuros e doentes já causassem pavor.
- Por que não me consome, monstro?
Por que não me leva de uma vez, não acaba comigo?
Entrou no cômodo escuro e cavernoso,
com correntes e algemas de prata, onde aconteciam suas transformações.
Todas, menos a primeira de cada lua,
quando ele corria desembestado pela floresta, atrás de uma trilha de animais mortos...
Tinha vontade de se acorrentar como
um animal, e ficar lá o tempo todo, até tudo acabar.
Olhou em volta, querendo explodir.
Ergueu o pulso para socar a parede
sem reboco, mas seu murro acertou o vazio.
Surpreso, esticou os braços na
frente do corpo, dando dois passos pra frente, mas nada de encontrar a parede.
Que estranho...
Ele ia avançando, devagar, na
completa escuridão do cômodo, e não encontrava paredes. Além disso, o chão
pareceu se inclinar, como uma descida, durante alguns passos, e depois ficou
plano novamente.
Foi então que ele entendeu.
Não era um cômodo.
Era um túnel.
Um túnel por baixo da terra.
Tinha apenas uma vaga ideia de onde
ele poderia dar.
Quando suas mãos finalmente
encontraram algo, não foi uma parede, e sim tábuas de madeira um pouco
apodrecidas, que não pareciam muito difíceis de remover.
***
Violeta, com os ramos de alecrim contados e separados, estava pronta para subir para a cozinha quando escutou um barulho que a assustou.
Vinha de trás da estante de livros
de Ana Rosa.
Antes que ela pudesse correr escada
acima e chamar alguém, a estante caiu para frente, levantando poeira e fazendo
um barulho alto e surdo.
Ela gritou, tossindo e recuando.
Atrás da estante, havia um buraco na
parede, como uma passagem secreta de filmes de aventura.
E ali, diante dela, estava Lucas.
Os dois se entreolharam, perplexos.
- Que diabos! – Exclamou Violeta,
perplexa. - O que está fazendo aqui? E que passagem é essa?
Ele deu de ombros, chateado e
irritado com a hostilidade dela.
- Acabei de descobri-la. Estou tão
surpreso quanto você. Parece que é um túnel subterrâneo que liga a casa até o
meu quarto.
Violeta deu outra tossida,
imaginando se aquilo era coisa de Ana Rosa ou se nem a mulher sabia.
- Isso é muito estranho.
- É. – Concordou Lucas, encarando-a.
- Bom, eu vou subir. Quer alguma
coisa? Já jantou?
- Já.
- Acho que Ana Rosa não está. Você quer
falar com ela?
- Não, não quero.
Silêncio.
Violeta começou a se sentir
desconfortável. Por que ele não ia embora? Nunca falava com ela, de qualquer
forma.
- Vou subir. – Repetiu. – Boa noite.
Com a nuca formigando, começou a
subir as escadas.
Lucas deu um pigarro.
Normalmente, não se atreveria, mas
estava tão mal humorado.
- Soube que você já está pegando outra cara.
Ela se voltou, chocada.
- O que?
- Acho que você me ouviu muito bem.
Violeta o encarou.
- Lucas, acho que quem eu pego ou
deixo de pegar é problema meu. Assim como eu não me meto nos seus lances, você
não deveria...
Ele ri, interrompendo-a.
- Violeta, pare de falar como se
fosse a pegadora do pedaço. Quando eu te conheci, você nunca tinha beijado ninguém.
Ela cruza os braços, furiosa com a
afronta dele.
- E daí? Lucas, você foi o primeiro a
me beijar. Mas a fila anda. Nós paramos de sair há tempos. Desde então você me evita, nem fala comigo. Por que está
tão interessado em saber da minha vida agora?
Ele deu de ombros, sério.
- Eu só queria saber se ficar comigo
não foi só uma estratégia pra chamar a atenção daquele mauricinho.
Violeta semicerrou os olhos,
indignada.
- Como? Por favor, deixe de ser ridículo.
Qual o seu problema, Lucas?
Ele se aproximou da escada.
- Você é o meu problema, Violeta. Eu
quero você de volta.
Ela riu, seca, sem se importar se
estava sendo cruel.
- Você nunca vai me ter de volta, pelo simples fato de que eu nunca
pertenci a você. Mais alguma pergunta?
Ele a encarou.
- Como você conseguiu me esquecer
tão facilmente?
Violeta o olhou, incrédula.
- Eu? Lucas, se você não se lembra,
foi você quem disse que não queria
nada sério e se afastou, do nada. E, depois, nem falou mais comigo. Nem aqui,
nem na escola. E eu fiz caso? Não. E agora, além de bisbilhotar e me espionar,
quer tirar alguma satisfação do que eu faço ou deixo de fazer?
- Eu amo você, Violeta.
A declaração súbita e desprovida de
malícia a desarmou.
- Como é?
- Eu te amo. Eu quero ficar com você,
mas aconteceram coisas... Que me obrigaram a me afastar.
- Sei. – Diz ela, voltando a postura
sarcástica. – Coisas como festas e garotas que deixam seus lábios inchados.
- Se você soubesse...
- A única coisa que eu sei é que você
agiu como um babaca e não sabe o que quer. Tenha uma boa noite.
Ela lhe deu as costas, e Lucas subiu
os três degraus que os separavam em um passo só, agarrando-a pelo braço.
- Você é uma idiota, sabia? Uma
completa idiota!
- Me solta! – Gritou Violeta, assustada.
As unhas dele se cravaram na pele dela, e doía.
- Não vou deixar que me esqueça. –
Vociferou ele, como uma ameaça. - Não vou deixar que fique com ele!
Ele a sacudia tanto, que Violeta não
conseguia falar, nem se soltar.
Lucas estava fora de si. O medo na
expressão dela só o irritava.
Quando, de repente, uma dor
alucinante o atravessou, como um choque que trava todos os músculos, e Lucas
caiu no chão.
- Nunca mais toque em mim, seu animal.
– Cuspiu Violeta. – É melhor arrumar as suas coisas. Vou falar com Ana Rosa e
logo você estará na rua, seu cuzão.
***
- Não vai comer? – Edgar Bragança perguntou, do outro lado da mesa na sala de jantar.
Era mais para quebrar o silêncio
habitual, do que, de fato, uma preocupação com a falta de apetite do filho.
Fernando balançou a cabeça.
- Não estou com fome.
O pai limpou a boca com um
guardanapo, em um gesto mecânico.
- Tudo bem. Tire a mesa e lave os
pratos. E não vá dormir muito tarde.
Edgar se ergueu e caminhou direto
para o quarto e, Fernando, imóvel, escutou a porta de fechar.
Se levantou, devagar, e colocou a
louça na pia.
Olhou para o céu, através da escuridão
da noite, se lembrando da sensação terna e excitante de Violeta entre os seus
braços.
Fernando fechou os olhos, ainda
sentindo na ponta do nariz o cheiro dela.
Quando a vira pelas primeiras vezes,
não entendia a hipnose que ela lhe causava. A vontade de se aproximar dela era
tão grande... E então ele descobrira o que, de fato, Violeta era.
E toda a magia desmoronou.
O medo de estar sendo enganado,
caindo numa armadilha de uma bruxa cruel... Mas, por fim, a doçura dela
vencera. Ele queria se deixar enfeitiçar e se perder nos encantos de cada gesto
ou palavra dela.
E, agora, Fernando tinha certeza de
que, aconteça o que acontecer, ele deveria proteger a ela e seus segredos.
Mesmo que fosse contra tudo o que o
haviam ensinado.
Mesmo que, anos atrás, houvessem
sido bruxas como ela as responsáveis pela morte da sua mãe.
CONTINUA
Morte da mãe dele...? Giovanna estou ficando confusa. Nem sei mais o que comentar.
ResponderExcluirLogo teremos esclarecimentos :D
ExcluirTo gostando da historia!
ResponderExcluirQue legal!
ExcluirContinue acompanhando, Fernanda.
Beijos!