“Sobre
nós dois:
Ninguém
nunca vai saber de tudo”
(Autor
Desconhecido)
Briana Brigantia deu mais uma volta
na frente do espelho da loja.
O vestido rosa havia lhe caído muito
bem, e ela sabia disso.
- Você parece uma Barbie – comenta
Edna, uma colega de classe que era a pessoa que mais idolatrava Briana no
mundo. – Sério. Você tá tão perfeita que me dá vontade de chorar.
Briana sorri, ainda se admirando no
espelho.
- Ah, Edna... Obrigada. Eu não me
importo se você chorar. Eu entendo, de verdade.
- Nossa, eu tenho tanta sorte por
ser a sua amiga – funga Edna.
Briana concorda com a cabeça.
- Sabe, Edna, eu me inspiro na
Barbie porque ela é perfeita e consegue tudo o que quer. E nesse momento o que
eu mais quero no mundo é que o Fernando me veja assim e também chore.
Edna seca a beirada dos olhos com os
dedos, mesmo não havendo nenhuma lágrima ali.
- Jura, amiga? Você gosta mesmo
dele?
- Eu gosto – concorda Briana, dando
voltas pelo corredor dos provadores. – Ele é tão lindo. Eu realmente acho que
nós faríamos um casal perfeito.
- Muito perfeitos – concorda Edna. –
Barbie e Ken, de verdade.
- Hoje a banda dele vai tocar na
saída do colégio. E eu quero estar linda. Vou até lá só para vê-lo. E vou
chamá-lo pra almoçar comigo. Quero que a gente tenha uma chance de ficar a sós,
pra ver se as coisas finalmente rolam entre a gente.
- Ele vai morrer quando te ver assim – garante Edna.
- Eu preciso conquistá-lo. – Briana
morde o lábio inferior. – Mas ele é tão tímido...
Edna se aproxima, segurando as mãos dela.
- Amiga, ele já é seu. Como ele
poderia resistir?
Briana sorri, voltando a entrar no
provador e dando uma última rodopiada em frente ao espelho antes de abrir o
zíper do vestido.
- Você tem razão, Edna. Nada pode
dar errado.
Briana tirou o vestido e ficou
apenas com o conjunto da Victoria’s Secrets, comprado na última viagem de
férias em Nova York.
Ela sempre tinha tudo o que queria.
Não havia motivos para que daquela
vez fosse diferente.
***
Lucas estava deitado de mal jeito no
chão do minúsculo banheiro anexado ao quarto.
Já era segunda-feira?
Foda-se.
Havia vomitado litros.
Era o monstro que fazia isso com
ele.
O monstro não gostava de ficar
acorrentado como nas últimas duas noites.
Então, além dos arranhões e
hematomas pelo próprio corpo, tudo o que ele comia ao acordar fraco e faminto
voltava mais tarde, porque não era o que o monstro queria.
Nem os bifes sangrentos bastavam.
O maior desejo do monstro era carne fresca.
Carne e sangue. Carne e sangue. Carne e sangue...
Lucas se encolheu mais ainda, em
posição fetal.
Depois se ergueu, afastando a franja
da testa suada.
Chega disso, pensou, alcançado a gilete que
estava em cima da pia.
Olhou para os próprios pulsos,
marcados por correntes e muitos arranhões. Não seria tão difícil.
Os arranhões eram como mapas,
indicando as veias saltadas. Apenas um corte fino e fundo em cada pulso seria o
suficiente.
Lucas lançou um último olhar amargo
ao seu redor.
Adeus, mundo
cruel.
***
Lena, Jaime e Violeta se encontraram no pátio na hora da saída.
- Eu odeio segundas-feiras. – Cospe
Lena.
- Hoje é dia de lua. De purificação
e intuição. – Observa Violeta.
Lena franze o cenho.
- Foda-se. Eu detesto as segundas.
Jaime balança a cabeça, erguendo o
celular.
- Posso provocar vocês um pouco?
- Não. – Respondem as duas garotas
ao mesmo tempo.
- Tarde demais. Olhem quem estava no
shopping fazendo compras enquanto estávamos presos nesse pequeno inferno...
Lena pega o celular dele e ela e
Violeta grudam as cabeças para olhar.
- E porque diabos você tem a Briana
Brigantia no Facebook? – Indaga Lena, franzindo o cenho.
- Todo mundo da escola tem! –
Justifica Jaime.
- Todo mundo é babaca – resmunga Violeta.
– Fernando deve estar com ela.
- Como você sabe? – Pergunta Lena.
- Ele não veio pro colégio hoje. E
agora frequenta a rodinha de amigos da Briana. No mínimo devem estar juntos
nesse momento, enfiando a língua na garganta um do outro.
- Vi, você está realmente parecendo
uma pessoa de coração amargurado. – Observa Jaime, preocupado. – Eu achei que
você não gostasse desse cara.
- Eu não gosto. – Diz Violeta. – Era
ele quem ficava me perseguindo. Mas
tanto faz. Não importa mais. Essa história já era.
Os três atravessaram a rua, onde
ficava o ponto de ônibus e uma praça onde os estudantes que não trabalhavam
ficavam de bobeira depois da aula.
Só que naquela tarde havia uma
movimentação incomum. Uma rodinha de alunos. Equipamentos de som em uma lona. E
música.
- Engula sua língua – sussurra Lena,
quando eles se aproximaram. – Olha quem está bem ali, tocando guitarra...
O coração de Violeta deu um
solavanco tão forte que quase a sufocou.
***
Fernando quase perdeu a noção de tempo e espaço quando viu Violeta.
Sentiu o rosto ficar vermelho e
desviou o olhar para as cordas da guitarra, tentando se concentrar apenas na
música.
O brilho do sol refletindo no cabelo
dela parecia capaz de queimá-lo. Ele sentia em cada centímetro da própria pele
o desafio da presença dela.
Era sufocante e eufórico.
Fernando decidiu encará-la. Iria
provocá-la dessa vez. O que ela poderia fazer? Voltar a confrontá-lo por olhar
pra ela? Fazê-lo se perder ainda mais?
Não, hoje não. Fernando a encarou
com toda a intensidade que conseguiu reunir. Ele sabia que era por ela que ele
estava ali. Ele queria impressioná-la.
A garota virou o rosto, perturbada.
- Ele tá olhando! – Cochicha Lena. –
Olha pra ele de volta.
- Não quero olhar. – Diz Violeta,
fingindo estar distraída com uma mecha de cabelo.
- O que aconteceu com a Violeta
durona que eu conheço? – Provoca Jaime. – Vai mesmo abaixar a cabeça?
- Vai se ferrar – ri Violeta,
cruzando os braços e encarando Fernando de volta. – Se ele quer me encarar, que
seja. Eu só quero ver se ele vai negar que estava olhando pra mim quando eu
enfrentá-lo.
- Te pago dez reais pra você ir até
e ele e beijá-lo. Sem falar nada. – Sussurra Lena.
- Vinte. – Acrescenta Jaime. – E um
mês grátis de academia.
Violeta revira os olhos.
- Vocês não deveriam ir trabalhar?
- Deveríamos. – Concorda Lena. –
Você não?
- Eu entro mais tarde hoje. – Diz
Violeta, presunçosa. – Vou esperar o ônibus aqui. Está sol demais para ir
andando.
- Aham, sei. – Caçoa Lena. – Bom,
nós já vamos. Até mais tarde.
Violeta se despede dos dois, e
depois volta a olhar para Fernando.
Lena tem razão, pensa ela. Eu quero beijá-lo.
***
Briana mal podia acreditar.
Fernando estava mesmo olhando fixamente para Violeta?
Aquela invejosa dissimulada e
esquisita... Só podia ser brincadeira!
Ela era tão... Simplesmente não
podia ser.
Havia algum engano ali, com toda
certeza.
Com toda a pompa, Briana se
aproximou de Violeta.
- Oi, estranha.
Violeta revirou os olhos e desviou
sua atenção de Fernando para Briana a muito contragosto.
- O que aconteceu com você, Briana?
– Pergunta, franzindo o cenho. – Parece que o pônei da Barbie te vomitou.
Briana ri, dando uma volta graciosa
para exibir o vestido.
- Moda de Paris, queridinha. Não é
pra qualquer uma!
- Sei. – Diz Violeta.
- O Fernando está lindo hoje, não é?
– Suspira Briana.
Violeta desvia o olhar rapidamente.
- Quem?
- Fernando Bragança, o guitarrista.
Você não o conhece? Do terceiro ano. Ele é simplesmente o cara mais fofo do
mundo.
- Ah...
Briana a olha.
- Eu acho que ele logo vai me pedir
em namoro, sabia? Nós já estámos ficando faz um tempo. E nos damos tão bem...
Violeta reprimiu a vontade de sair
correndo. Ela não merecia escutar aquele discurso, nem um pouco.
- Nós dois gostamos das mesmas
coisas – continua Briana, com olhar sonhador. – E ele me dá presentes lindos e
caros. Não que isso seja importante, mas demonstra que ele realmente se
importa. Outro dia ele me levou pra jantar em um restaurante super sofisticado.
E estamos planejando ir pra Orlando juntos nas férias.
Violeta não conseguiu se conter.
- Por que está me contando tudo
isso? Acha que eu estou interessada?
Briana coloca a mãos sobre a boca,
fingindo surpresa.
- Ah, eu me esqueci. Essas coisas
não fazem parte do seu mundo, não é
mesmo?
Violeta quis dar um soco em Briana.
Quis chutar a bunda dela muitas e
muitas vezes.
Mas tudo o que ela conseguiu fazer
foi dar às costas para Briana, Fernando e o resto do mundo.
Aquela garota irritantemente loira e
inconveniente tinha razão: aquelas coisas são faziam parte do mundo dela.
Viagens para Orlando? Restaurantes chiques? E, finalmente, Fernando.
A música acabou, e várias pessoas
aplaudiram, mas as palmas mais animadas eram de Briana.
Antes que Violeta pudesse se
recompor, Kenji, o animado baterista da Fallen Angels, chamou a atenção de
todos.
- Bom, pessoal... Ensaiamos a música
a seguir nos últimos tempos, mas nunca a apresentamos antes. Meu amigo Fernando
irá cantá-la, o que é uma exclusividade também. Com vocês, Violet Hill, do Coldplay.
Não pode ser.
Violeta se virou, quase em choque.
Fernando a encarou, os olhos verdes fazendo
alguma coisa realmente esquisita com a alma dela.
O olhar de Briana ficou mais sombrio
do que nunca.
***
“So if you love me
Why'd you let me go?
I took my love down to violet hill
There we sat in snow
All that time she was silent still
Said if you love me won't you let me know?
If you love me won't you let me know?”
(Então, se você me ama
Porque me
deixa ir?
Eu levei meu amor para a montanha violeta.
Lá nós nos sentamos na
neve.
O tempo todo, ela permaneceu em silêncio.
Disse, se você me ama, não
vai me deixar saber?
Se você me ama, não vai me deixar saber?)
Violeta engoliu em seco para não
cair no choro.
Aquilo já era demais.
Que tipo de jogo era aquele? Por que
Fernando Bragança fazia questão de brincar assim com ela? Era uma ideia de
Briana, ou ele a odiava por algum motivo que ela não fazia ideia?
A voz dele era tão doce... Ainda
mais acompanhada pelos acordes da guitarra.
Havia poucos estudantes por ali
aquela altura, mas por um momento ela teve a impressão de que estava sozinha
com Fernando no mundo.
Estou sendo uma
grande idiota.
Fernando não sabia como havia
conseguido tocar sem errar nenhuma nota, muito menos como sua voz havia saído.
Não com Violeta parada bem a sua frente, olhando-o.
Ela se virou, quase triste, indo
para o ponto de ônibus.
- Cara! – Sussurrou Kenji, aproveitando
a pausa para ir até o amigo. – O que você está esperando? Vai lá falar com ela!
- Como? – Fernando o olhou, confuso.
- A garota que você estava olhando
como se nunca tivesse visto uma menina na vida.
Fernando sentiu o rosto esquentar.
- Deu pra perceber...? Que eu estava
olhando pra ela?
- Meus parentes no Japão perceberam,
cara. – Diz Kenji, com falso pesar. – Mas a notícia boa é que ela estava
olhando também.
Fernando engoliu em seco, olhando
para a silhueta da garota no ponto de ônibus.
- Acha que eu devo mesmo ir?
- Está moscando!
- O que eu falo? – Fernando estava
quase entrando em pânico.
Violeta havia percebido aquela
movimentação.
Notou Fernando e o baterista olhando
para ela e conversando. Notou a inquietação dele.
Era demais.
Pegou a bolsa e começou a descer a
rua, desistindo de esperar pelo ônibus.
Não dava para ficar ali.
Seu coração não aguentaria mais nem
um minuto.
Fernando a viu indo embora e se
sentiu o maior dos idiotas. Um maldito.
Mas o que ele realmente poderia fazer?
A resposta foi uma voz maliciosa em
sua cabeça:
Tê-la para você,
nos seus braços, até ver o sol morrendo castanho no olhar dela...
Fernando Bragança decidiu que tinha
que parar com isso. Mesmo que, no fundo, ele soubesse que já estava tudo
perdido.
CONTINUA
O.O para com isso, não quero ficar confusa entre o Fernado e Lucas, como fiquei na outra vez. Não gosto do Fernando. Gosto do Lucas *-----*
ResponderExcluirGiovanna, você está mudando bastante coisa ne?! Porque eu não me lembro muito bem da história na primeira vez que você postou, mas parete que está TÃÃÃÃO diferente, hahaha, muito melhor.
Se já era incrível antes, imagina agora *-----*
Não quero começar a gostar do Fernando! Para de escrever ele todo fofo, perfeitinho e beijável!
ExcluirNão sei porque, mas algo me diz que o Fernando é um traidor, que ele vai trair a Violeta, entregando-a por ser bruxa para aquela igreja que ele frequenta com o pai. Já o Lucas... Não consigo ver obLuvas traindo a Violeta desse jeito.
Giovanna não me ache maluca, mas eu vejo traição em quase tudo hahahahhaha.
Eu morro com seus comentários, Carla XD
ExcluirSim, eu mudei bastante coisa na história, e espero mesmo melhorá-la cada vez mais.
Obrigada pelo carinho <3
E pare de ver traição em tudo, ou seu coração vai acabar ficando amargurado, o que seria muito triste.
Mantenha-o em segurança, mas nunca trancado pro mundo.
:*