Pular para o conteúdo principal

9. A Garota da Vitrine


“Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...”
(Lua Adversa, Cecília Meirelles)

Lucas foi interrompido por batidas na porta do banheiro.
- Guri! Você está bem? – Tudo em Ana Rosa exigia uma resposta.
Como se despertasse de um transe agoniante, Lucas soltou a gilete na pia e abriu a porta.
Ana Rosa o olhou, preocupada.
- Cruzes... Você está mais magro do que nunca. Está se alimentando direito, Lucas Matarazzo?
- Tudo o que eu como acaba voltando. – Diz ele, amargo. - Acho que o monstro está com raiva...
- Seja forte. – Diz Ana Rosa. – Você está aguentando bem. Só mais duas noites e então só terá que enfrenta-lo de novo no próximo mês. E até lá poderá se preparar, se fortalecer.
- Ainda tem mais seis meses. - Acrescenta Lucas, sem conseguir esconder o desânimo.
Ele se perguntou se realmente aguentaria. Se perguntou se não enlouqueceria e rasgaria os próprios pulsos para sangrar até morrer naquele banheirinho com manchas de bolor nas paredes...
- Não comece com besteiras ou te chuto daqui! – Ralha Ana Rosa, mais ou menos adivinhando os pensamentos dele. – Seu avô aguentou isso por anos antes que eu descobrisse um jeito de ajudá-lo.
Lucas assentiu, humilde, e um pouco distraído.
Maus pensamentos não iriam ajudar em nada...
Mas o que se faz quando todos os pensamentos são maus?
O que se faz quando o seu pior inimigo está dentro da sua cabeça?

***

Violeta achava que estava enlouquecendo aos poucos.
As palavras de Briana rodavam na cabeça dela.
Lena tinha certeza de que era mentira, e de que ela e Fernando não tinha absolutamente nada.
- Você acha mesmo – indagou Lena – que se os dois estivessem juntos não teria um milhão de fotos dos dois no Facebook da Briana? Ela tira foto até do que ela come, e eu estou falando de coisas do tipo cupcake de shopping.
Violeta não sabia, mas preferia se dar ao luxo da dúvida.
Na manhã seguinte, quando chegaram ao colégio, Fernando estava sozinho no pátio.
A poucos metros dela, como se adivinhasse sua chegada.
Apoiado na parede, girando um caderno no dedo.
E, claro, com os olhos fixados nela.
Violeta engoliu em seco e, sem dizer nada para Lena, foi até ele, decidida.
Fernando estava tão distraído enquanto a olhava, que tomou um verdadeiro susto quando percebeu que ela o encarava de volta e ia na direção dele.
Seu coração parou.
O caderno caiu no chão.
O que ela ia fazer? Bater nele, talvez? Perguntar se ele iria continuar negando que a olhava tanto? Beijá-lo e enfeitiça-lo para sempre?
- Oi – começou ela, tomando coragem para olhá-lo nos olhos. – Parabéns pela apresentação de ontem. Foi realmente muito boa. Você... Toca muito bem.
De algum modo, ele conseguiu sorrir.
- Valeu. – Respondeu, com uma piscadela.
Violeta sorriu de volta e lhe deu as costas antes que ele pensasse em mais alguma coisa para dizer.
O que ele diria? Talvez algum atrevimento?
Violeta sentiu os batimentos cardíacos voltando ao normal enquanto voltava para a companhia de Lena e Jaime.
Lena ria maldosamente.
- O menino deixou o caderno cair. Perdeu totalmente o controle.
Violeta sorriu.
- Qual é o problema dele? Será que eu o assusto tanto assim?
- Eu diria que você o deixa completamente apavorado. – Diz Jaime.
Violeta balançou a cabeça, pensativa dessa vez.
- Sabe, isso não é saudável! Tenho que parar de ser tonta. Devo ignorá-lo enquanto não souber as intenções dele. Me recuso a continuar tentando decifrá-lo. Não consigo imaginar o que ele quer de mim.
- É uma pena. – Comenta Lena. – Porque eu consigo.

***

Briana se encostou em Fernando na primeira oportunidade.
- Você realmente tem talento – tagarelava ela, enquanto ele assentia, distraído. – Alguém com bom nome deveria te escutar. Meu tio já trabalhou em uma gravadora importante, ele tem ótimos contatos.
Ela sorriu e Fernando sorriu também.
Briana não era desagradável, de jeito nenhum. Ela sabia dizer o que as pessoas queriam ouvir, só que na maioria das vezes estava ocupada demais falando de si mesma para se incomodar em usar esse dom.
E ela era bonita, pensou Fernando. Mas era tristemente óbvia. Dizia com muita franqueza e pose tudo o que pensava. E dava para adivinhar de longe suas intenções por trás das palavras dóceis.
Nada misteriosa. Nada intrigante.
- Obrigado, Briana – disse ele, enfim. – Mas a música é só um hobby. A Fallen Angels é mais um passa tempo. Estamos felizes em ser apenas uma banda de igreja.
- Tudo bem! – Ela sorri e dá de ombros, entrelaçando o braço ao dele enquanto andavam pelo pátio. - Então você gosta de Coldplay, não é?
- Ah, é. Eu curto.
- Bonita a música de ontem. – Continua Briana, com falsa inocência. – Como se chamava, mesmo?
Fernando desviou o olhar, pressentindo o perigo naquela conversa.
- Violet Hill. – Respondeu, tentando não hesitar. – Mas a minha favorita deles é The Scientist.
Nessa hora Briana sorriu, ainda mantendo a máscara inocente.
- Sabe... Acho que tem uma garota na escola que é a fim de você.
Fernando engoliu em seco, olhando-a e tentando decifrar a mensagem. Violeta havia dito alguma coisa para Briana? Não. Impossível. Elas se detestavam.
- É? Quem? – Pergunta ele, forçando a curiosidade.
- O nome dela é Violeta. – Sussurra Briana. – É do segundo ano. Uma que... Foi grosseira comigo aquela vez no Point Coffee. Eu achava que ela era lésbica e tinha um caso com a menina que mora com ela, mas ontem, enquanto você tocava, ela quase babou.
Fernando se retraiu, sem dizer nada.
Como se ele soubesse disfarçar quando olhava pra ela...
- Você percebeu? – Indaga Briana, erguendo uma sobrancelha.
- Não. – Responde Fernando, branco como papel. – Mal conheço essa garota.
Agora Briana sorria, triunfante.
- Eu sabia. – Ela para, ficando frente a frente com Fernando, e erguendo os olhos azuis para ele. – Você sabe que tem muitas admiradoras nesse Colégio, não é?
Fernando balança a cabeça, sem graça.
- E eu sou uma delas. – Confessa Briana. – Mas eu não aguentaria ser apenas mais uma. Eu não posso mais esperar. Eu quero ficar com você, Fernando Bragança. Aqui e agora.
Briana sorriu para a expressão de surpresa dele, antes de se inclinar e beijar Fernando como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Ele pensou em recuar, mas decidiu que não. Estava apenas beijando uma menina bonita. Não deveria haver problema nenhum nisso.
Mas porque ele sentia como se houvesse?

***

Violeta parou, cravando as unhas na palma da mão.
Lena olhou para ela, preocupada.
Ela tentou ignorar a troca de saliva entre Fernando e Briana, mas seus olhos estavam pregados neles, e, quando conseguiu desviá-los, por algum motivo eles estavam cheios de lágrimas.
- Vamos sair daqui, Vi – sussurrou Lena, puxando-a. – Agora.

***

- Eu não consigo acreditar. – Violeta desabou na poltrona assim que ela e Lena entraram no quarto. – Eu realmente não consigo. O que eu perdi? Um cara que me olhava o tempo todo. Mas por que parece que foi mais do que isso? Por que parece que isso está me machucando?
- Respire. – Diz Lena, séria. – E se acalme. Vamos resolver isso.
Era a folga de Violeta na livraria, e Lena havia combinado com Jaime que iria chegar um pouco mais tarde na Academia, visto que Violeta poderia precisar dela.
- Não tem nada pra resolver, Lena. – Violeta agarrou um almofada, e enterrou as unhas nela. – Eu estou tão irritada! Mas acho que não tenho o direito de ficar zangada com ele... É comigo mesma que eu tenho que me zangar! O que eu estava pensando? Que ele gostava de mim? Justo ele, tão arrogante, tão intocável, tão distante...
- Violeta, você não tem culpa. – Diz Lena, se sentando na cama diante dela. – Você é só uma garota. Você tem o direito de se iludir, de se enganar, como todo mundo.
Violeta balança a cabeça, transtornada.
- Pelo menos agora eu sei. Agora eu estou livre dessa palhaçada toda. Agora vou poder ignorar cada olhar que ele me lançar, e ele nunca mais vai me fazer sentir um lixo como estou me sentindo agora.
Lena aperta a mão dela.
- Eu vou te ajudar.
Violeta levanta a cabeça, os olhos parecendo mais escuros do que o habitual. Ficou alguns segundos em silêncio, e então apertou a mão de Lena de volta.
- Então pegue o meu caldeirão, Lena.

***

- Você fodeu com tudo.
Violeta ergueu os olhos castanhos para ele.
Fernando tentou recuar, mas parecia colado no chão. Era impossível se afastar da raiva dela.
- Eu não sei porque você fez isso. – Continuou ela. - Mas eu vou te assombrar pra sempre. Você nunca mais vai conseguir se esquecer de mim. Você vai desejar olhar pra mim mais do que tudo. Mas não vai me alcançar.
Fernando tentou falar, mas sua voz estava presa na garganta. Violeta se aproximou dele, colocando uma rosa vermelha em sua mão.
Não parecia mais brava. Apenas cruel. Ela ria da confusão dele.
- Você me perdeu pra sempre.

***

Fernando se sentou na cama, trêmulo.
Ele demorou para reconhecer o próprio quarto. Demorou para assimilar que tudo havia sido apenas um sonho.
Mas então ele viu uma rosa vermelha caída no tapete, e o pânico tomou conta dele.
A presença dela ainda estava viva no quarto.
Fernando se abaixou para pegar a flor.
Mas tirou a mão rapidamente, assustado.
A rosa estava quente.
***

Violeta assistiu à rosa queimar dentro do caldeirão, junto com ramos de alfazema e alecrim, junto aos pedaços de papeis com o nome de Fernando e com as frases que ela queria que ele escutasse.
Já era de madrugada, e ela estava cansada.
Cavou um buraco no jardim e enterrou as cinzas do feitiço. Lavou o caldeirão com óleo de violeta sob a luz do luar.
- Que assim seja, e assim se faça. – Murmurou ela.
Lena havia encontrado o feitiço em um livro de Ana Rosa, e conseguido parte dos ingredientes, mas se recusara a participar daquilo.
- Você resolve. – Havia dito ela. – Essa parte é com você.
E Violeta já estava se sentindo muito mais leve. Era como se aquele misto de sentimentos conflitantes houvessem sido enterrados junto com a rosa queimada.
Ela sabia que Ana Rosa jamais aprovaria uma coisa daquelas, mas havia sido necessário.
Não foi só um feitiço, foi um ritual.
Um ritual para se livrar de Fernando Bragança para sempre.
Ele não merecia seus pensamentos.
Violeta tomou um banho de cravo antes de ir se deitar.
E seu último pensamento foi que ela era uma bruxa poderosa. E agiria como tal a partir de então.

***

Uma semana inteira se passou, e Violeta não teve problema algum em ignorar Fernando por completo.
Era como se ele fosse apenas uma sombra do passado, agora. Uma sombra que tinha uma própria sombra, chamada Briana.
Violeta não tinha nenhum motivo para desejar qualquer proximidade.
Além disso, agora havia o outro cara.
Depois de ter desaparecido da escola por alguns dias, o misterioso garoto estava de volta.
E agora Violeta o achava bastante intrigante. Atraente, até.
Ele não a olhava com aquele jeito solitário e distante de Fernando. Não. Ele era descarado. A encarava com firmeza, passava perto dela na escola, quase tocando-a.
Às vezes, chegava a sorrir.
E Violeta jogava o jogo dele.
Não era como se existisse timidez ou medo. Era apenas uma expectativa que deixava as coisas mais interessantes. Excitantes.
Espero não estar me ferrando de novo, pensava ela, enquanto ajeitava livros nas prateleiras da livraria.

***

Eu quero viver. Eu tenho esse direito. Enquanto o monstro estiver adormecido, eu tenho o direito de ser apenas um cara normal.
Lucas tentava convencer a si mesmo.
A rotina de ir ao colégio, trabalhar no jardim e andar de skate nas horas vagas ajudava.
No fim, Ana Rosa tinha razão.
Se manter ocupado era importante, e muito.
Mas o que ocupava os seus pensamentos na maior parte do tempo, agora, era a garota de cabelos castanhos que ele paquerava na escola.
Tudo nela era tão único e tão sedutor, mas de um jeito totalmente natural.
Lucas se sentia um predador, testando os próprios limites. O quão perto dela ele ousaria chegar? Por quanto tempo a encararia sem desviar os olhos? E a melhor parte era que ela correspondia à ideia.
Em um dia ele era o caçador, e no outro a caça.
Ele queria falar com ela.
Mas abordá-la na escola não parecia a melhor forma de fazer isso.
Lucas já havia ficado com várias meninas antes.
Mas nenhuma mexia com ele daquele jeito.
Nenhuma provocava nele aquela mistura de curiosidade, admiração e até mesmo tesão. Não de um jeito pervertido, sei lá, de um jeito mais apaixonado, talvez.
Ele não podia mais esperar.
Precisava saber se havia alguma chance com ela. Alguma chance de que ela deixasse que ele deslizasse os dedos pelos fios do cabelo castanho e sedoso.
Alguma chance de beijá-la. Beijá-la muito.
Lucas avisou Ana Rosa de que iria sair.
Ela olhou-o de cima abaixo, dos jeans gastos, passando pelas pulseiras de couro, até o cabelo recém-lavado e despenteado, mas não disse nada.
Foi até o Shopping Jardim Brilhantina, e lá começou a procurar pela livraria onde a havia visto uma vez.
Com o coração um pouco descompassado, olhou pela vitrine.
Ela estava lá, tinha acabado de atender um cliente, uma mulher com seu filho que saia satisfeita com a sacola da Livraria Wonderland.
Lucas respirou fundo. E de repente se sentiu mais calmo.
Só teve um pequeno choque ao perceber que ela o havia visto e o olhava, como se não acreditasse que ele estivesse ali.
Ele entrou na livraria e parou diante dela, encarando-a.
- Posso ajudar? – Perguntou ela, colocando as mãos na cintura. A voz era séria, mas os olhos dela pareciam brincar com ele.
- Oi – começou ele, aproveitando a proximidade para ver de perto cada detalhe do rosto dela. – Eu cansei de jogar. Você se lembra? Da nossa troca de olhares no colégio?
Violete ergueu uma sobrancelha.
- Sim, eu me lembro.
- Bem... – Começou ele, passando a mão pelo cabelo sempre bagunçado. – Achei que poderia haver algum interesse porque... Da minha parte, pelo menos, tem.
Silêncio.
Lentamente, ela sorriu.
E Lucas  também sorriu por, pelo jeito, ter dito a coisa certa.
- Eu quero sair com você. – Diz ele. – Será que eu posso?
- Pode. Meu turno termina às seis. – Diz ela. – Me encontre no ponto de ônibus aqui em frente. Podemos dar uma volta.
Lucas assentiu.
- Meu nome é Lucas. Você...?
- Violeta. – Ela deu um sorriso secreto. – Não se atrase.
Ele apenas se aproximou dela e sussurrou em seu ouvido, antes de ir embora:
- Você é muito foda, sabia?
O eco daquelas palavras cochichadas ficaram na cabeça de Violeta pelo resto da tarde.
Ah, graças a todos os deuses. Ele é EXATAMENTE o oposto do Fernando!

CONTINUA

Comentários

  1. Respostas
    1. Quando teremos continuação?? *----*

      Excluir
    2. Já postei a continuação <3
      Desculpe a demora, fiz uma pausa por causa das correrias das festas de final de ano, mas agora volto a postar normalmente :D

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

11. Ela não é uma Dama

“Finalmente caiu em si. E foi em queda livre.” (Clarice Freire) Na manhã seguinte, Violeta e Lena saíram juntas para ir ao colégio, como sempre. Mas, como nunca, havia dois garotos parados em frente ao portão. O coração de Violeta ficou alerta ao ver Lucas: o uniforme do Colégio, que sempre lhe parecera tão formal e sério, nele tinha um aspecto descolado e moderno. Talvez fosse a forma como ele estava amarrotado. Ele e Jaime haviam trocado comprimentos, um pouco constrangidos, e esperavam em silêncio pelas meninas. - Seu amor está esperando por você. – Provoca Lena. - Ao menos o “meu amor” não parece um cachorrinho, como o seu Jaime. – Devolve Violeta. - Não. – Concorda Lena, cheia de malícia. - O seu é mais como um lobo selvagem. Lena deu o braço para Jaime e apressou o passo, caminhando na frente para que Violeta e Lucas pudessem conversar com mais privacidade. Lucas a beijou no rosto e pegou a mão dela. - Vamos? - Vamos. Os dois começaram a d

17. Amor Amarrado

“Venha a mim, e fique preso Pelos poderes da Rainha das Encruzilhadas” (Simpatia para amarração de amor) A chuva estava muito forte lá fora, e os sons da tormenta chegavam até o porão. Ana Rosa desceu as escadas, levando apenas uma vela roxa no castiçal. Ela vestia sua capa ritualística preta e estava apreensiva. Poucas coisas eram capazes de assustar Ana Rosa Arabella, mas ela nunca havia tentado aquele ritual sozinha. Se concentrou ao traçar o círculo, cantando rezas quase tão antigas quanto a humanidade. Se sentou fora dele, derramando vinho e tabaco em seu interior. A velha bruxa iria apreciar a oferenda. Não demorou muito e a vela foi apagada por um sopro de vento anormal. Ana Rosa sentiu os pelinhos da nuca se eriçarem quando a visão luminosa da bruxa idosa apareceu, sentada em uma cadeira de balanço e costurando. - Meus velhos ossos doem nessas noites de tempestade. – Gemeu o espírito da bruxa. - Eu lhe trouxe vinho e tabaco, vovó. – Disse Ana Rosa, a

14. Sozinha

“Solidão. Após a queima de fogos, Uma estrela cadente.” (Shiki) O silêncio foi absoluto por alguns segundos. Lena deu uma leve tossida. - Vou ao banheiro. – Murmurou, se afastando. Violeta olhou para as próprias mãos, escondendo as unhas com esmalte descascando com as mangas da jaqueta. Por dentro, Fernando estava trêmulo, mas decidiu continuar firme por fora. - É mesmo verdade? – Insistiu ele. – Você também pensa em mim? – Ela continuou em silêncio. - Não vai me responder? – Perguntou, sentindo o rosto quente. Violeta hesitou, mas por fim o encarou, com os olhos enormes. - O que quer que eu diga? Eu só sei que você fica me encarando com muita insistência desde o ano passado... Se eu não estiver enganada. - Não está enganada. Silêncio novamente. Violeta perdeu a paciência. - Então por que mentiu? – Perguntou, abraçando os próprios braços. – Por que fica me encarando? Fernando demorou um pouco para responder, engolindo em seco. - É complicado... V